Entrevista com a banda Trovador



  1- Primeiramente obrigado pela entrevista, é uma grande honra. Gostaria que nos apresentassem um pouco a história do Trovador. Coisas como, quando começou, as ideias e como está atualmente a banda.


Trovador - Agradeço primeiramente pelo espaço cedido, a honra também é nossa! O Trovador surgiu daquilo que eu, como fã de Death Metal, sentia falta no cenário atual. Sempre fui fã escola noventista de Death Metal, em princípio da Florida, e o que se vê no cenário atual, é que, com a evolução do gênero à essência daquela década estava sendo cada vez mais deixada para trás, o que é um processo natural da evolução do estilo. Porém, particularmente, eu sempre preferi um Death Metal naquela linha, com riffs mais densos, e uma sonoridade mais arrastada - em comparação à sonoridade atual -, o que torna o som ainda mais pesado. Atualmente, muitas bandas esquecem do feeling e buscam tocar cada vez mais rápido, com blast beats do início ao fim da música, levando apenas o fator velocidade como pilar para um som pesado. A partir dessa ideia, decidi começar com Guilherme (guitarrista) um projeto que resgatava justamente esse saudosismo dos anos 90, qual as próprias bandas que gravaram seus registros nessa época, atualmente, deixaram essa característica para trás; basta comparar, por exemplo, os lançamentos do Cannibal Corpse nos anos 90, com os lançamentos atuais.


     2 -  A música “Necropedofilia” retrata a história do “Vampiro de Niterói”. Poderiam nos contar um pouco mais dessa história? E aproveitando gostaria de saber sobre o processo de elaboração dessa música.  

Trovador - O "Vampiro de Niterói", foi um serial killer brasileiro, acusado de estuprar e matar mais de 14 crianças no Rio de Janeiro. A elaboração dessa música cruza justamente com a mesma linha de raciocínio da pergunta anterior. No início do Death Metal, muitos compositores buscavam abordar em suas letras histórias de serial killers - não só no metal, mas em outros subgêneros do rock também -, a exemplo de Chris Barnes, que em suas composições expressava o que havia de mais repugnante no ser humano, que eram as barbaridades dos serial killers americanos, o que ele incluiu no Death Metal na época.

     3-    Vocês estão planejando alguns materiais novos ainda para o final de 2016? Tem algo em andamento que possa nos adiantar? E os temas pretendem abordar mais personagens brasileiros?

Trovador - Estamos em processo de gravação do nosso primeiro material oficial, que será um EP contendo 5 músicas, qual já deveríamos ter lançado, mas por instabilidades na formação este lançamento está sendo demorado. Mas já fechamos a formação e tudo está correndo conforme o esperado. A previsão é lançar pelo menos um vídeo-single com uma nova música até o fim deste ano. Este EP contará com 5 músicas, sendo uma intro e 4 músicas, nas músicas, cada uma abordará respectivamente a história de algum serial killer brasileiro.


     4-   Shows, têm conseguido agendar alguns? Como está esse processo?

Trovador - Sim. Vez outra, produtores entram em contato conosco para contratar nosso show, tanto aqui em Recife, quanto em cidades vizinhas e do interior também. Porém, o lançamento desse EP é uma realização pessoal que venho idealizando há muitos anos, e é nosso objetivo que esse material saia justamente como nós idealizamos cada detalhe, o que acaba nos sobrecarregando para shows. Precisamos focar na produção deste material, para em seguida pensar nos shows. O que vale salientar também, aproveitando o momento, é que agregaremos alguns  elementos interessantes não convencionais, em nossas apresentações.

    5- A banda em sua página de Facebook compartilhou o posicionamento de um integrante (Nekrotávio), sobre a questão do conservadorismo no metal.
Peculiarmente estamos fazendo essa entrevista no dia de segundo turno de eleição municipal em nosso país (30/10), e a pauta em geral dos candidatos conservadores gira em torno do que eles definem como bandeiras cristãs: Família “tradicional”, anti drogas, anti LGBT, anti aborto e outros pontos. Fora que alguns deles como Crivella (PRB-Rio de Janeiro) tem forte ligação com igrejas. Como analisam esses mesmos valores presentes nas falas cotidianas de diversos hedbanges? Inclusive fãs e músicos de bandas extremas com temática anti cristã.

Trovador - Esse é um ponto em que tenho batido bastante, a relação entre política e metal. São dois pilares que sempre estarão interligados. A essência do metal sempre foi transgressora em comparação aos valores tradicionais da sociedade, independente se uma banda aborda isto explicitamente nas suas letras ou não. Somos sempre doutrinados a pensar de uma forma, não existe em nenhuma esfera da sociedade um movimento cultural isento de posicionamento político. Quando um headbanger, fã de uma banda que aborda em suas letras um posicionamento anti cristão, e fora do underground esse cara tem um posicionamento ideológico conservador, mostra justamente o quanto ele é hipócrita ou a falta do debate político dentro do underground. Levando em conta a segunda opção, é justamente pensando nesse cara, que nós do Trovador, levantaremos sempre a bandeira do antifascismo dentro do underground. Pois se buscarmos nos isentar do nosso dever de conscientizar nosso companheiro metálico, sem dúvidas o fascista que sequer faz parte do movimento underground irá convencê-lo de que uma ideologia separatista é a solução para os problemas da sociedade. Metal e política se mistura sim, quem discorda, sem dúvidas tem um pensamento conservador, e provavelmente entra em crise existencial por saber que é um hipócrita toda vez que jogam na sua cara que o metal e o conservadorismo não se convergem! Por isso o conservador que sempre abafar o debate polítco dentro do metal!


    6-  Alguns de nós no RxTx temos influência gramsciana, então entendemos que não falar de política é fazer política ao mesmo tempo que se “viver é tomar partido” estamos nos posicionando o tempo todo. Mas algumas pessoas dentro do metal falam que metal e política não se misturam. Gostaria de saber o posicionamento da banda sobre isso.

Trovador - Concidentemente a resposta já está na pergunta anterior, rs!

    7-      Queria agradecer a atenção. Conheci o Trovador recentemente e foi uma banda que muito me chamou a atenção. Tenho gostado demais das coisas que vejo. Assim como tivemos a oportunidade de trabalhar com o Escarnium da Bahia aqui em Sorocaba, quem sabe chegará o dia que os teremos tocando em nossa cidade. Muito obrigado. E fiquem a vontade para dar seu recado final.

    TrovadorAgradeço a toda equipe da RxT, não apenas pela oportunidade de abrir espaço para o Trovador, mas por manterem acesa a chama do debate político dentro do metal e saber da importância que é tomar um posicionamento dentro do nosso movimento. Nosso maior objetivo para shows não é fazer tour na Europa, mas sim poder cruzar com vários irmãos das mas distintas regiões do Brasil, esperamos assim um dia aterrissar em Sorocaba. Forte abraço!


Som da banda no Youtube: 
https://www.youtube.com/watch?v=z1zZrqYNmR8

Nota - 8 de Março


Um ótimo dia 8 para todas nós, que façamos dele mais um dia de luta, assim como todos os outros nas nossas vidas. Dias estes nos quais temos que aguentar tantas coisas, nojeiras diversas, entre elas algumas que nos perseguem até mesmo em espaços que vemos e acreditamos como reivindicados pela e para a luta, como o âmbito musical.

Sabem para quê servem as rosas e as mensagens (supostamente) de apoio, que vocês nos direcionam neste dia 8, enquanto continuam a boicotar bandas compostas por mulheres, a boicotar, descaradamente, shows com essas minas (simplesmente por serem minas), assim como, repetidamente e incasavelmente, tentam avacalhar seus trabalhos? Não servem para nada. Assim como, na real, vocês (que fazem isso) também não. ;)

Para o dia de hoje fizemos uma pequena seleção de bandas fudidas compostas por minas! Espero que curtam e, não se esqueçam, a luta continua: apoiem as bandas femininas, bora tomar e fazer tremer os espaços que TAMBÉM NOS PERTENCEM!

~SUPPORT YOUR LOCAL GIRL GANG!~

(clique nos nomes das bandas para ouvir suas músicas)

ESTAMIRA


REVIVIR HC


NERVOSA


PANNDORA


VOCÍFERA


GIRLSCHOOL


BIKINI KILL



Hoje optamos por compartilhar algumas bandas compostas apenas por mulheres, mas há diversas outras compostas totalmente ou parcialmente por minas, entre elas Manger Cadavre?, Disforme, Miasthenia, a Torture Squad, com a Mayara Puertas (ex-Necromesis), entre tantas outras. Deixo para vocês a página The Female Vocalists of Extreme Music, que conta com uma lista muito legal de bandas de metal extremos que contam com minas na sua composição, e, abaixo, um documentário muito legal sobre as minas no metal brasileiro. ;)






Entrevista com a banda Arandu Arakuaa!




RxTx (Fábio) - Primeiramente gostaria de agradecer por toparem fazer essa entrevista conosco: é uma grande honra. Gostaríamos de pedir que fizessem uma breve apresentação da trajetória do Arandu Arakuaa.
Arandu Arakuaa (Zândhio)  -  Arandu Arakuaa (saber dos ciclos dos céus, Tupi), mesclamos heavy metal, música indígena e regional brasileira, com letras na língua Tupi, Xerente e Xavante.
Contamos com um EP "Arandu Arakuaa - 2012” e dois álbuns “Kó Yby Oré - 2013” e “Wdê Nnãkrda – 2015; três vídeos clips e dois lyric vídeos. Já nos apresentamos em festivais como Agosto de Rock (TO); Femme Festival (GO); Ferrock (DF); Porão do Rock (DF), THORHAMMERFEST(SP), Fórum Mundial de Direitos Humanos, dentre outros.
Nájila Cristina (Vocais/Maracá), Zândhio Aquino (Guitarra/Viola Caipira/Vocais/Teclado/Instrumentos Indígenas), Saulo Lucena (Contrabaixo/Vocais de Apoio/Maracá) e Adriano Ferreira (Bateria/Percussão)

RxTx (Fábio) - Sobre os álbuns e materiais gravados, o álbum de estreia foi Kó Yby Oré (2013). Quando esse material foi lançado chamou muito a atenção pela língua cantada, as letras e a sonoridade. Como foi dialogar com toda essa proposta nesse primeiro trabalho? 
Arandu Arakuaa (Zândhio) – Em 2012 havíamos gravado o EP de estreia, mas Kó Yby Oré foi realmente a primeira oportunidade de materializarmos o que tínhamos em mente. Na verdade ele foi muito além de nossa expectativa tanto na parte musical quanto da divulgação e aceitação por parte do público e crítica.
É um disco com material composto em diferentes épocas, mas mostra bem como a banda soava naquele momento, o produtor Caio Duarte soube tirar o melhor de cada um de nós.
Creio que Kó Yby Oré seja o típico primeiro álbum, onde são mostrados os elementos básicos da proposta da banda para serem aperfeiçoado nos trabalhos futuros. Por mais que ele tenha uma certa complexidade musical ainda assim soa direto.

RxTx (Fábio) - Em Wdê Nnãrkrda (álbum de 2015), vocês trazem a música "Povo Vermelho" que já traz a presença da língua portuguesa na canção. Para trabalhos futuros pretendem trazer novamente essas músicas cantadas em português?    
Arandu Arakuaa (Zândhio) – O conceito dessa música nos levou a cantá-la em português, mas não pensamos ainda sobre fazermos isso no futuro. Também usamos uma música infantil e uma instrumental para cada disco, no Wdê Nnãkrda temos quatros músicas sem guitarra, bumbo duplo e vocal gutural. Pretendemos continuar lançando mão de toda essa diversidade de linguagens musicais, mas não fazer disso uma regra.



RxTx (Keyla) - Além de escrever letras sobre mitologia e outros aspectos da cultura indígena, há alguma “letra-protesto” sobre a situação de alguma etnia ou sobre o que os indígenas passam atualmente no país?
Arandu Arakuaa (Zândhio) – Música com essa pegada de protesto tem “Povo Vermelho” no Wdê Nnãkrda e “A-î-kuab R-asy” no Kó Yby Oré, em algumas outras isso aparece de forma sutil, porém até o momento nenhuma música fala de questão política específica de um povo, até porque os problemas da maioria dos povos indígenas neste campo são bem parecidos.
Procuramos escrever na estética da música indígena; falando de seus costumes, crenças, vivências e contato com a natureza.

RxTx (Keyla) - Vocês já se apresentaram no evento Thor Hammerfest, em São Paulo, com as bandas Scythia do Canadá e Manegarm da Suécia. Como foi essa experiência? Foi a primeira vez tocando para o público paulista? 
Arandu Arakuaa (Zândhio) – Nossa primeira vez em Sampa. O público foi um dos mais insanos e receptivos para o qual tivemos o prazer em tocar.
Nesse show teve a participação do ator Matheus Nachtergaele gravando uma cena para uma série sobre a vida e obra do lendário Zé do Caixão que foi transmitida pelo canal de TV Space.

RxTx (Keyla) - Tomando como referência o nome do evento, que é em alusão à um deus da mitologia nórdica, como foi a recepção do público para com uma banda que toca sobre mitologia indígena? Como vocês enxergam essa aproximação?
Arandu Arakuaa (Zândhio) – Foi nossa primeira vez em um festival com essa temática e tínhamos pouca informação sobre as bandas que lá tocaram. Em momento algum tememos reação negativa, sabíamos que uma grande parte do público iria lá para prestigiar nosso trabalho e foi o que de fato aconteceu. Também se rolasse reação negativa iríamos descer o farrapo no som do mesmo jeito haha.
Nosso foco é divulgar e exaltar nossa cultura nativa e não temos qualquer influência musical ou estética dessas bandas. Porém, vejo essa aproximação do público como natural e saudável, obviamente qualquer pessoa pode se identificar com propostas artísticas distintas.

RxTx (Keyla) - Entrando em um aspecto mais político (e fiquem à vontade ao máximo para com esta resposta), o que vocês pensam sobre a nomeação de Kátia Abreu (PMDB) para ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento?
Arandu Arakuaa (Zândhio) – Encaramos isso com um grande retrocesso nos direitos dos povos indígenas e consequentemente na questão ambiental.
Aliás, sempre que me perguntam o que há de pior em Tocantins, meu estado natal, falo que é a Kátia Abreu.



RxTx (Fábio) - Queria agradecer a atenção. Temos acompanhado com bastante entusiasmo os materiais da banda e esperamos nos ver em shows em breve! Por favor deixem suas considerações finais.  
Arandu Arakuaa (Zândhio) – Agradecemos imensamente pelo espaço cedido e esperamos tocar ao máximo possível e ter esse contato direto com nossos apoiadores.
Em breve estaremos lançando um novo vídeo clip. Fiquem de olho em nossos canais oficias e em outros projetos dos quais fazemos parte.

Arandu Arakuaa nas Redes Sociais:
Facebook:  https://www.facebook.com/aranduarakuaa
Youtube: youtube.com/aranduarakuaa
Soundcloud: https://soundcloud.com/aranduarakuaa
Contatos para Shows:
E-mail: aranduarakuaa@gmail.com
           Projetos que fazemos parte:
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